O culto a Nossa Senhora do Monte Serrat surgiu na Espanha, durante a Reconquista, época de lutas entre os cristãos contra os mouros que tinham invadido a Península Ibérica (Portugal e Espanha). Para escapar aos saques, igrejas e capelas foram desativadas, sendo muitas das suas imagens escondidas.
Segundo a tradição, teria sido um pastor que encontrou, na Catalunha, numa área deserta, uma imagem da Virgem Maria com o menino, dentro de uma caverna. A região tem um relevo muito especial, estranho, de rochas agudas que lembram, no horizonte, os dentes de uma gigantesca serra de cortar. Daí o nome de Monte Serrate. O pico mais alto mede 1.235 metros e chama-se São Jerônimo. Curiosa coincidência com a história do "Monte Serrate" de Santos, cujo primeiro nome era morro de São Jerônimo. Da Catalunha (Espanha) a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat espalhou-se pela França, Itália, Portugal, Países Baixos, Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e outros.
Trazido pelos espanhóis, veio o culto para a América Central, ainda na época de Colombo, e depois para o México, Peru, Equador, entre outros. De Portugal chegou à Bahia, no tempo de Tomé de Sousa e o "...Santuário de Nossa Senhora do Monteserrate, protetora da Catalunha, fundaram Senhores da Torre que chamam Garcia Dias Ávila..." (antes de 1580), segundo frei Santa Maria no Santuário Mariano de 1723.
O grande impulso a essa devoção foi dado por D. Francisco de Sousa, governador geral, viajando pela Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos e Sorocaba. D. Francisco chegou a Santos em 1599, em pleno período espanhol, e governou o Brasil até 1605. Voltou novamente ao Brasil em 1608, para governar a Repartição do Sul e morreu pobre, em 1611.
Um requerimento de frei Bernardo de Braga, provincial da Ordem de São Bento, informa que D. Francisco de Sousa "... foi o que fez a ermida e pôs a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat na Vila de Santos e a dava aos provinciais de São Bento, se na dita vila assistissem...".
A capela
A capela foi construída segundo um modelo funcional e simples que, devido a condições semelhantes de propósitos e meios, foi repetido em todo o Brasil. A construção sofreu muitas alterações e ampliações nos seus quase quatro séculos de existência.
Hoje, a igreja é de responsabilidade da Mitra Diocesana de Santos, assim como o Mosteiro de São Bento, que antigamente estavam, os dois, aos cuidados da Ordem de São Bento (tradicional guardiã dos Santuários do Monte Serrat).
Você sabia?
Três pessoas, todos amigos de D. Francisco, podem ter projetado e construído a Capela do Monte Serrat (as fontes não esclarecem o ano da construção, sendo aceito o período de 1599 e 1605 ou entre 1609 e 1611)
Irmão Francisco Dias, jesuíta, português e arquiteto;
o florentino Baccio de Filicaia
o alemão Geraldo Betting
A subida do monte é feita pelo caminho Monsenhor Moreira, onde há 14 quadros em bronze da Via-Sacra, inaugurados entre 1939 e 1941.
A imagem da padroeira
Em Santos existem duas imagens bem diferentes. Na Igreja do Carmo, existe uma réplica da original da N. S. do Carmo, que é do século XI ou XII, em estilo romântico, em madeira, pintada de dourado. Pelo fato de a madeira estar negra, é chamada de "La Moreneta".
Segundo a tradição, a imagem achada no Monte Serrat teria vindo de Jerusalém para a Espanha e por isso ela é também chamada de "Jerusalamita".
Uma reportagem do antigo "O Diário" encontrou e fotografou uma imagem que foi apontada como a primeira imagem do Monte Serrat. A fotografia mostra a madona numa cadeira barroca, tendo na base dois anjos serrando um monte, segundo alguns, acrescentados. Do espaldar da cadeira, em forma de coração, surge um sol com raios enormes. Não se sabe onde se encontra essa imagem. Teria sido esta a primeira imagem doada por D. Francisco.
A segunda, é a atual, atribuída ao escultor beneditino frei Agostinho de Jesus, por D. Clemente M. da Silva Nigra. É de barro cozido, com 40 cm de altura, feita entre 1652 e 1655. Ela pertence ao importante grupo de imagens de barro, realizadas pela escola beneditina de escultura do século XVII. Maria está sentada numa cadeira de braços com o menino em pé sobre os joelhos.
A devoção
São muitos os significados religiosos da devoção. A começar pela construção da capela no alto de um morro de 150 metros, para onde foi difícil levar o material. Na mitologia, a montanha é símbolo primordial, pois representa segurança e uma maior proximidade com Deus. Ir à montanha significa uma forma de ascensão religiosa. O monte é a lembrança da terra, a grande mãe que nutre o homem, da qual ele depende para a sua sobrevivência. Tornou-se costume católico a consagração dos montes a Deus ou aos Santos.
Os milagres
Incontáveis são os milagres atribuídos a Nossa Senhora do Monte Serrat desde o século XVII, tempos de invasões corsárias, como a do holandês Spilbergen, em 1615, registrado pela tradição do desmoronamento sobre os invasores. Frei Santa Maria escreveu: "Com esta santíssima imagem têm muito grande devoção os moradores daquela vila, e assim eles, como os religiosos monges, a servem e festejam com muita grandeza e devoção (...) é muito grande o concurso da gente de toda aquela vila que vai louvar e visitar aquela milagrosa senhora, porque, além de ter casa de muita romagem em todo o ano, neste seu dia é muito maior o concurso. Nele lhe vão a oferecer as suas ofertas e a pagar os seus votos".
Essa descrição, anterior a 1723, serve muito bem para a festa do dia 8 de setembro. No século XIX, a festa do Monte Serrat reunia uma multidão que rezava e se divertia barulhentamente. Havia reclamações sobre aspectos da festa, considerados demasiado lúdicos. Nessa época, só a festa no Monte Serrat durava três dias.
A festa é encerrada com a procissão do Senhor do Bonfim, cuja imagem é uma das mais notáveis obras de arte de Santos. A devoção do Bonfim originou-se em Setúbal, Portugal, e veio para o Brasil em 1745, para a Bahia, estando ligada ao culto mariano.
A padroeira de Santos
A devoção tornou-se tão forte que, em 1955, Nossa Senhora do Monte Serrat foi proclamada, oficialmente, padroeira de Santos, assim como inspirou versos aos poetas, como Thales de Melo e Martins Fontes, e na prosa, páginas como a de Lydia Federici.
Mas é a subida da colina, que começa junto à famosa Fonte do Itororó e a presença maciça do povo levando a imagem que provam que a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat, além de herança histórica, é uma das mais importantes tradições do povo santista.
Nossa Senhora do Monte Serrat tornou-se padroeira de Santos, por lei sancionada pelo prefeito Antônio Feliciano em 1954 e coroada cerimoniosamente em 8 de setembro de 1955.
Matéria original extraída do Portal Novo Milênio (https://www.novomilenio.inf.br/santos/h0066c.htm) com conteúdos extraídos de História de Santos/Poliantéia Santista (de Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Editora Caudex Ltda., São Vicente/SP)
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